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10 de dez. de 2010

[para Ângela*, e apenas para todos nós].

"E tão vasta a noite na montanha. Tão despovoada. A noite espanhola tem o perfume e o eco duro do sapateado da dança, a italiana tem o mar cálido mesmo se ausente. Mas a noite de Berna tem o silêncio.

Tenta-se em vão ler para não ouvi-lo, pensar depressa para disfarçá-lo, inventar um programa, frágil ponte que mal nos liga ao subitamente improvável dia de amanhã. Como ultrapassar essa paz que nos espreita. Montanhas tão altas que o desespero tem pudor. Os ouvidos se afiam, a cabeça se inclina, o corpo todo escuta: nenhum rumor. Nenhum galo possível. Como estar ao alcance dessa profunda meditação do silêncio? Desse silêncio sem lembrança de palavras. Se és morte, como te abençoar?

É um silêncio, Ulisses, que não dorme: é insone: imóvel mas insone e sem fantasmas. E terrível — sem nenhum fantasma. Inútil querer povoá-lo com a possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina que se abra e "diga" alguma coisa. Ele é vazio e sem promessa. Como eu, Ulisses? Se ao menos houvesse o vento. Vento é ira, ira é a vida. Mas nas noites que passei em Berna não havia vento e cada folha estava incrustada no galho das árvores imóveis. Ou se fosse época de cair neve. Que é muda mas deixa rastro — tudo embranquece, as crianças riem brincando com os flocos, os passos rangem e marcam. Isso durante o dia é tão intenso que a noite ainda é povoada. Há uma continuidade que é a vida. Mas este silêncio não deixa provas. Não se pode falar do silêncio como se fala da neve. O silêncio é a profunda noite secreta do mundo. E não se pode falar do silêncio como se fala da neve: sentiu o silêncio dessas noites? Quem ouviu não diz. Há uma maçonaria do silêncio que consiste em não falar dele e de adorá-lo sem palavras.

A noite, Ulisses, desce com suas pequenas alegrias de quem acende lâmpadas, com o cansaço que tanto justifica o dia. As crianças de Berna adormecem, fecham-se as últimas portas. As ruas brilham nas lajes e brilham já vazias. E afinal apagam-se as luzes das casas. Só um ou outro poste iluminado para iluminar o silêncio.

Mas este primeiro silêncio, Ulisses, ainda não é o silêncio. Que se espere, pois as folhas das árvores ainda se ajeitarão melhor, algum passo tardio talvez se ouça com esperança pelas escadas.

Mas há um momento em que do corpo descansado se ergue o espírito atento, e da Terra e da Lua. Então ele, o silêncio, aparece. E o coração bate ao reconhecê-lo: pois ele é o de dentro da gente.

Pode-se depressa pensar no dia que passou. Ou nos amigos que passaram e para sempre se perderam. Mas é inútil esquivar-se: há o silêncio. Mesmo o sofrimento pior, o da amizade perdida, é apenas fuga. Pois se no começo o silêncio parece aguardar uma resposta — como arde, Ulisses, por ser chamada e responder; — cedo se descobre que de ti ele nada exige, talvez apenas o teu silêncio. Mas isto os da maçonaria sabem. Quantas horas perdi na escuridão supondo que o silêncio te julga — como esperei em vão ser julgada pelo Deus. Surgem as justificações, trágicas justificações forjadas, humildes desculpas até à indignidade. Tão suave é para o ser humano enfim mostrar sua indignidade e ser perdoado com a justificativa de que se é um ser humano humilhado de nascença.

Até que se descobre, Ulisses — nem a tua indignidade ele quer. Ele é o Silêncio. Ele é o Deus?

Pode-se tentar enganá-lo também. Deixa-se como por acaso o livro da cabeceira cair no chão. Mas — horror — o livro cai dentro do silêncio e se perde na muda e parada voragem deste. E se um pássaro enlouquecido cantasse? Esperança inútil. O canto apenas atravessaria como uma leve flauta o silêncio. O que mais se parecia, no domínio do som, com o silêncio, era uma flauta.

Então, se há coragem, não se luta mais. Entra-se nele, vai-se nele para o Inferno? Vai-se com ele, nós os únicos fantasmas de uma noite em Berna. Que se entre. Que não se espere o resto da escuridão diante dele, só ele próprio. Será como se estivéssemos num navio tão descomunalmente enorme que ignorássemos estar num navio. E este singrasse tão largamente que ignorássemos estar indo. Mais do que isso um homem não pode. Viver na orla da morte e das estrelas é vibração mais tensa do que as veias podem suportar. Não há sequer um filho de astro e de mulher como intermediário piedoso. O coração tem que se apresentar diante do Nada sozinho e sozinho bater em silêncio de uma taquicardia nas trevas. Só se sente nos ouvidos o próprio coração. Quando este se apresenta todo nu, nem é comunicação, é submissão. Pois nós não fomos feitos senão para o pequeno silêncio, não para o silêncio astral.

Se não há coragem, que não se entre. Que se espere o resto da escuridão diante do silêncio, só os pés molhados pela espuma de algo que se espraia de dentro de nós. Que se espere. Um insolúvel pelo outro. Um ao lado do outro, duas coisas que não vêem na escuridão. Que se espere. Não o fim do silêncio mas o auxílio bendito de um terceiro elemento: a luz da aurora.

Depois nunca mais se esquece, Ulisses. Inútil até fugir para outra cidade. Pois quando menos se espera pode-se reconhecê-lo — de repente. Ao atravessar a rua no meio das buzinas dos carros. Entre uma gargalhada fantasmagórica e outra. Depois de uma palavra dita. Às vezes no próprio coração da palavra se reconhece o Silêncio. Os ouvidos se assombram, o olhar se esgazeia — ei-lo. E dessa vez ele é fantasma."

(Clarice Lispector - Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, pp. 37-39)


Todo o livro, até aonde agora pude ler, é uma espécie de confrontar-se com esse silêncio. Da parte que até agora ouvi e poço dizer desta nova epistemologia, é uma espécie de lançar-se na escuridão e sempre retornar ao ponto de partida, que é sempre o mesmo e ao mesmo tempo que qualquer um - posto que se funda não no espaço ou instante temporal, mais em uma espécie de ocultar-se da ingenuidade que nos fazia crer que encontraríamos e, simultânea e simétricamente, um revelar-se da volátil verdade insustentável: quanto mais se pede em vociferação uma resposta, mais se cala a unica coisa que nós resta aceitar: o silencio do mundo e o seu reverberar-se eterno. Dito assim, até parece que a ingenuidade tem, epistemolgica, e talvez até, ontologicamente (se o que sabemos é o que é e o que é não é mais que o próprio mundo a dizer-se pra si mesmo, como queria Spinoza), a mesma importância fundadoura da lucidez não é? Talvez seja. Em alguma outra parte deste mesmo livro, a personagem fala que prefere não entender, pois "entender é algo tão limitado". será tudo isso o que se pode chamar - que não estejam a me ler agora os barbudos da academia - de um tipo de "epistemologia negativa": não saber para poder saber mais e sempre mais? Talvez. Se assim for, será pois, antes, " preciso saber escapar de saber".

Talvez para que fiquem ainda garantidas às novas verdades e grandes construções do intelecto a dignidade e importância que lhes são merecidas, o "talvez" deva continuar sendo a unica certeza - talvez e sempre talvez.


*http://ecce-ancilla.blogspot.com/2010/11/contra-dizer.html

28 de nov. de 2010

A ultima sinceridade.

Definitivamente e sem mais palavras ou metáforas cínicas, não postarei mais aqui...

21 de nov. de 2010

III Colóquio Benedictus de Spinoza

Viajarei só, à noite. Seremos apenas eu e a multiplicidade confusa das estrelas, além de todo o silencio da verdadeira face do universo. Somos todos, aqui neste planeta a girar sem nenhum pragmatismo, corpos a brilhar, pior ainda, não temos brilho próprio: a escuridão a negar qualquer significado ou distinção, e nós aqui a refletir uma luz que teima em nos atingir. Lá fora, o que de fato há é apenas silencio e escuridão, nada mais. Nada para buscar, nada para investigar, nada de claro e distinto para ser revelado. Fora isso, há uma ninharia de luz a afirmar-se sozinha, vagando em uma velocidade inalcançável, eternamente única. O buscar é apenas a afirmação da inconformidade ante ao NADA, não é a profecia de que algo está velado.

Será que é preciso mesmo manter-se puro e polido para refletir essa luz?

A noite será solitária, as previsões não podem ser outras. Na companhia de um artigo que eu ainda não consegui cuspir pra fora e que provavelmente me será cobrado nos próximos dias, com um bolo imenso de conceitos dentro do estomago, todos a se revirarem lançando pequenas idéias enzimáticas para a cabeça, tornando cada vez mais nítida a vertigem.

Duas esfinges me fitam ameaçadoras: ou a forma como ando bebendo os conteúdos não me permite digeri-los e expressa-los, ou não há nada que eu possa dizer com o meu dialeto cacofônico destas coisas que me empurram goela abaixo...


17 de nov. de 2010

Há que se derramar-se de alguma forma.

Descobri anteontem que os gregos - ou talvez até outros antes deles, há os que defendem a real originalidade do oriente - já sabiam que a composição da lágrima é a mesma que a do sêmen: então isso quer dizer que eles já sabiam que em todo sofrer há algumas gotas de prazer e que para todo instante de gozo há que se derramar-se em sofrimento.

O silêncio é a única verdade*...

..........................................
........
...Todo o resto é grito de quem não consegue ouvi-lo.



*É esse... Breve... Breve... Acerca dele só me resta calar, ainda não descobri uma epistemologia do infinito-instante-singular-em-si-mesmo-eterno**.
**Segundo Espinosa, filósofo nascido, fundido a ferro e fogo, na Holanda do séc. XVII, Deus, a Natureza, a Substancia Única, a Totalidade de todas as coisas encerrada e contida em seus limites, revela-se a si mesma, exprime , e imprime, toda a sua verdade e toda a sua potência - imputando em si mesma as suas marcas -, naquilo que há de mais singular, mais determinado e, inevitavelmente, quase que condenadamente, mais subordinado, mais condicionado, mais Finito... Mais... Ínfimo e Fugaz.

Obs.: Mais uma vez, como em todos os outros posts que jazem neste sitio, o que fica é a certeza, tácita (com todo o risco subjacente), que o mais importante foi apenas insinuado - que me perdoem os que aqui entram procurando uma completude encerrada em locuções quaisquer.

31 de out. de 2010

Do silêncio II.

Sinto que neste momento poderia escrever sobre tudo...

Mas sei, do que as cicatrizes podem dizer, antes,
Que sou frágil demais pra aguentar o peso das palavras...

...

Então deixo os gritos voarem e se perderem...
Sempre a se perderem

...


22 de out. de 2010

Revoada silenciosa.



Desde já devo dizer que fiquei muito feliz e encantado com seu texto. Mas ainda fico atordoado diante de belezas simples e singulares (meu vasto e confuso coração se torna um grão de areia no meio da ventania): demorei pra assentar meu espírito em algumas palavras e tentar expressar o que me fizestes sentir ao ler-te, algumas outras tantas vezes já demorei tanto que o sentimento me escapou e se perdeu no meio dos compromissos diários (quantas crianças órfãs esquecidas pelo caminho!)- espero conseguir terminar este texto.
Sobre a economia das palavras, gosto de pensar nos pequenos poemas de Quintana: em pequenos versos - há nele poemas que chegam a ter apenas uma linha- resumi-se todo um universo, como se o poema fosse um acontecimento e todo o resto se calasse, ou, e assim gosto de pensar, como se houvesse uma espécie de teimosia em cada poema que ignora todo o resto do mundo e suas palavras e questões mudas, porque naquele breve instante, tudo se emudece e só aquele curto verso importa como se fosse ele a revelação de tudo o que antes estava velado.
Parece que há no silencio uma importância que só se revela quando este é insinuado- na precisão de um olhar, na segurança das mãos que aquecem... (pena, para mim, que Narciso ainda não esgotou o som das palavras: continua a ouvir os gritos que, apesar de serem de fora, ouve como se fossem seus- precisa ele ensurdecer-se pois ainda não desacreditou da verdade do sangue.)
Há mim parece que, se há felicidade no cair do céu, é porque há uma certeza muda de que todo fim é condição da possibilidade de um novo começo - e o sofrimento é o ocultar-se da felicidade como condição da possibilidade dela mesma.
Quanto à citada serenidade, percebo que algumas coisas que escrevo antes de serem expressões do que sinto e, por isso, conselhos a um outrem, são como que reivindicações das minhas angustias mais ocultas a mim mesmo: esta serenidade ainda me falta, minha mente parece mais uma gaiola cheia de pássaros em revoada e desespero de voar- diria Kant que falta em mim uma estrutura transcendental e seus juízos sintéticos para ensiná-los a voar.
Mas escrever assim, ”Conversa aberta, desfilosófica”, sabendo ser isto uma possibilidade de continuar a ler-te, é o que mais vale a pena neste momento: eu sempre tive uma teoria que, ao contrário do que talvez quisessem os cartesianos, os pássaros nunca voam apenas por puro pragmatismo de auto conservação da espécie, parece haver uma necessidade tácita de bailar no risco aéreo dos ventos- em nosso casso, brincar com a imprecisão de cada signo da humana epistemologia de papel.

Escrever assim é sempre um remexer em coisas ocultas. Eu não consigo ignorar as palavras, muito menos o silêncio delas: fica muito a dizer, sempre muito, de mim e, aqui, do seu escrito.


Obs: não entendi o que você quis dizer com “a de limão”.
[segundo a própria Ângela: "(...) é essa que não se vê, mas caso se aproxime o fogo do papel - ah que ela está lá! - assim me parece significar a "revoada silenciosa".]

11 de out. de 2010

Momento Narcisista IV.


Tenho a cabeça cheia de gritos.
Alguns são idéias
Outros se limitam a profundos delírios.


Porquanto, não distinguindo quais são o que, mantenho o blog sem novos post's.

No Jardim das Flores Suicidas II.

O pequeno e determinado universo
Se expande e se desfaz ao nosso redor
À medida que se multiplicam as possibilidades

O sol em nossas mentes
Parece querer nós queimar

Às vezes,
A imensidão do céu parece querer nós engolir

Beba, beba meu amor!

Beba do vinho e coma da carne
Antes que o Devir transforme tudo
Em lembranças insípidas

Tente sentir o calor de minhas mãos
Antes que o desejo se desfaça
Na incerteza dos motivos,
Na confusão das palavras
(Frigidas freiras atordoadas)

Pois a verdade é uma hóstia
A se desfazer no semi-árido do tempo


Escrito originalmente em uma aula de língua grega, no dia 10 de setembro de 2010.

23 de ago. de 2010

Mar de Sophia*


-Ó vida...
Tu que és mar,
A ti entrego o meu corpo e meu espírito
-Tão frágeis
Quanto as ondas que em ti se desfazem


*Titulo deste disco de Maria Bethânia

19 de ago. de 2010

No jardim das flores suicidas...


Alice: Qual é a etimologia de teu nome e o juízo a priori de teus movimentos?

Coelho Branco: Há muito mais do que palavras no mundo.

Alice: Mas não é por meio delas que o conhecemos e sobre elas que se constroem os caminhos de fuga?

Coelho Branco: Não! Antes de tudo, é por meio delas que se oculta o calor do toque e o furor das paixões, sobre as quais se fundamenta o motivo dos suspiros – para que não sejam apenas moléculas de oxigênio em teu pulmão.

Alice: Mais e os caminhos?! Para onde levam?!

Coelho branco: Os caminhos se bifurcam no pespectivismo e no trincar de teus olhos de vidro!

...

As flores, mais uma vez, são as deste poema.

Dos Laços Familiares

Para a minha companheira de subsolo, Aline Mayfair

Somos filhos da mesma tempestade
Que às vezes, por impiedade
(ou, não sabe ela, por pura ingenuidade)
Pari relâmpagos
De consciência angustiada e desespero

Assim somos, nós:
Relâmpagos, claros no meio da madrugada

Onde só as incertezas,
Tantas quantas são as estrelas,
São testemunhas da nossa queda

Como anjos (Lucifer’s)
Que já nascem cuspidos do céu de verdades puras.



É imprescindível que você leia o poema hiperlincado em 'Lucifer's"

11 de ago. de 2010

Fala a “consciência hipertrofiada”*...


Narciso, Michelangelo, 1599

Imerso na escuridão aprisionante de meu subsolo
Sei que lá fora os objetos, todos, volatilizam-se
Ouço os gritos de seus ethos
A reivindicarem eternidade e primazia.

Parafraseando Parmênides, resmungo para mim mesmo:
“- O ser é uma esfera feita de pensamento gritando o próprio pensamento
Fechada em si mesma!...

Imersa em si mesma...
Trancada...
Una...

Unicamente,

SÓ!”


*Do livro Memórias do Subsolo, de Fiódor Dostoiévski, 1864
Talvez seja pedir demais a tal consciência o parto de um "artigo" sobre este livro. Tomara que não.
Que eu acredite que não!

2 de ago. de 2010

Momento Narcisista III.


Entre os cinco e os seis anos de idade

Todo individuo é estrábico. Até um cão trás os olhos em conflito.

28 de jul. de 2010

Relatos de um poeta desesperado.

Tive um pesadelo!

Acordei envolto no suor de meu corpo
Que tremia na já tão intima solidão

E , de imediato, quase antes do primeiro suspiro,
Percebi-me vazio de palavras diante do fato irrevogável que era meu corpo a crepitar
Uma escuridão imensa, dentro de mim

Os signos eram apenas polígonos carrancudos e opacos

O contraditório escândalo sobre a Poesia

Sem serenidade não há escrito
Há apenas, Grito!

É isto que, agora, ouço quanto sinto a pele tremer e rasgar

:

Até as palavras mais duras precisam de vento leve que as faça flutuar

A poesia dor, pode-se dizer
É o momento em que o corvo,
Com dentes em vermelho fétido e putréfico,
Quase toca o chão em um rasante sutil

Mas, como pode?
O peso de cada grito em uma unica palavra leve?

10 de jul. de 2010

Meditação Quarta, Parágrafo Quarto*.

Ai de mim
Ai de nós

Feitos em parte de Tudo
E em outra parte de Nada

Uma parte arriscadamente sincera
Outra parte cegamente enganada

Tendo em mim
Todos os desejos
Toda a coragem e todo o medo
Para ir de encontro aos rochedos
Que o mar dos afetos me levar

Mas há neste jardim de flores suicidas (ah, minhas convicções!)
Pássaros que cantam motivos que não me pertencem
Velhos livros empoeirados
Na caduquice do tempo:
- o dever-dos-amores!
- A moral-geométrica-dos-desejos!

Então algum Nada que há em nós
Se encontra com algo de um Tudo
Que não é nosso

Ingênuo, e ainda vazio,
Vejo-me cantando:
- Agora sei todos os teoremas-pitagóricos-dos-desejos-de-plástico;
Sou uma “tecla-de-piano” **-afinada-e-lubrificada-que-soa-sempre-a-mesma-nota!

Mas os lábios que me beijam
Não me excitam
O hálito quente ao meu ouvido
Não arrepia o meu corpo

Pois se tudo o que há em mim é mar
Qualquer forma de cais
E só um nada qualquer no mundo

Não é meu este corpo

Nem é minha esta boca que se abre
Nem a fome que ela sente

Gritarei nos ouvidos de Descartes
Até que ele fique surdo:
- O meu único erro
É não seguir as marés de minhas intensidades!
(mudas)



"Não existem motivações racionais. Existem racionalizações de motivos emocionais."
(Aline Mayfair, aqui)



*Descartes, René. Meditações Metafísicas, “Meditação Quarta, Do Verdadeiro e do Falso”. 1641.
** Do livro Memórias do Subsolo, do Dostoiéviski. Mais precisamente, na pagina 44.

9 de jul. de 2010

Estou a ler:

" Mas tenho de sorrir, porque o sal do mar está no meu sangue e podem existir dez mil estradas sobre a terra, mas nunca irão me confundir, pois o sangue do meu coração sempre voltará para a bela fonte. Então o que devo fazer? Devo erguer a boca ao céu, tropeçando e balbuciando com uma língua temerosa? Devo abrir o peito e bater nele como num tambor, buscando a atenção do meu Cristo? Ou não será melhor e mais sensato que me cubra e siga em frente? Haverá confusões e haverá fome; haverá solidão com apenas minhas lágrimas como pequenos pássaros confortadores, rolando para suavizar meus lábios secos. Mas haverá também consolação e haverá também beleza como o amor de uma garota morta. Haverá algum riso, um riso contido, e quieta espera na noite, um medo macio da noite como o beijo pródigo e mordaz da morte. Então haverá noite e os doces óleos das praias do meu mar, derramados sobre meus sentidos pelos capitães que desertei na sonhadora impetuosidade da minha juventude. Mas serei perdoado por isto, e por outras coisas, por Vera Rivken e pelo incessante bater das asas de Voltaire, por parar para ouvir e observar aquele fascinante pássaro, para todas as coisas haverá perdão quando eu retornar à minha terra natal pelo mar."

Pergunte ao Pó, John Fante, pg 103.


Meus agradecimentos a Pâmela Martini, é realmente um livre incrível.

8 de jul. de 2010

Conselhos de Okeanós I.


Ângelo Bronzino, Alegoria do Triunfo de Vênus (entre 1540-1545)

Só aprende a amar quem é capaz de assumir toda a dor que se sente.

4 de jul. de 2010

O papel rasgado e o sangue a escorrer.



É interessante como todos os escritores e poetas que tenho conhecido ultimamente sempre tiveram um contato com livros, palavras, desde de suas infâncias.
Eu nunca tive isso, cresci sem palavra. Recebendo do mundo as informações que ele me dava de graça, talvez seja por isso que hoje penso que foram de péssima qualidade(existe mesmo isso garoto?). Comecei a ler por teimosia e as palavras me sairam como sangue que jorrasse de um corte profundo: talvez seja por isso que a minha relação com as palavras foi sempre de dor, furto, crime...
Hoje, escrevo como que numa espécie de tentativa de respirar: o pulmão frio a ranger, o ar pesado, as vezes até cuspo sangue, vomito signos desconexos e sem nenhum sentido.


Obs: acho que este post deveria ser maior, pelo o conteúdo que ele pretende expressar. Na verdade, era pra ter sido publicado no blog novo(meucadernodegritos.blogspot.com), mas por falta de paciência pra construi-lo, e sendo eu terrivelmente perfeccionista, ele ainda não foi ao ar de vez.

3 de jul. de 2010

Ainda sobre a pagina em branco e o papel rasgado.

Enfim, eis que é a vontade...

Vontade de ser ritmo!

Uma orquestra inteira a invadir a alcova do silêncio
Marcando o compasso da marcha intrépida
(calando os relógios que sussurravam o fim e a resignação)

É só por isso,
Pelo silêncio e pelo grito:
Os poemas, as pinturas na caverna, os argumentos lógicos, a insolência dos amores...
E sobre tudo, os moinhos de vento: ...


[Seguia-se aqui algumas linhas tratando da minha tentativa de demonstrar o que significa esta metáfora com os "moinhos de vento". Mais uma vez, calei-as]

30 de jun. de 2010

A pagina em branco...



Eu quero beber uma garrafa etílica de palavras
De um único gole
(litros e litros de locuções des-semânticadas)

Desengasgar este nó de silêncio
Ao mesmo tempo que me embriago de gritos

Por que o que me dói no estômago
É este vazio de versos que me preencham os pulmões
Que me sufoquem os pensamentos

Que me tirem o folego
E que me façam crer por um único instante
(enquanto recito-os em voz trêmula)
Que pode existir algum tipo de perfeição e beleza na vida
Em cada versinho... em cada universo que trazem recolhido dentro deles

Estou a ler Memórias do Subsolo, do Dostoiéviski, e hoje sinto ímpetos de sair e me embriagar de álcool e cigarros.

28 de jun. de 2010

O Destino.


Achei a imagem na internet, quem conhecer o créditos, por favor, relatar-me nos comentários

Talvez uma escolha resolva
Talvez uma promessa acalente
Tomara que o medo se dissolva
Na incapacidade da mente

E ficamos nós a fazer-mos escolhas, acreditando que somos capazes de prever o efeito exato delas. Para amanhã, fazemos promessas. Tendo fé não apenas que sabemos o que nos será posto para escolher, mais que também sabemos quem seremos amanhã. E assim confiamos que seremos forte o bastante para agir da forma que agora achamos certo -ingenuidade sempre; algumas vezes, covardia de agir agora, diante dos fatos reais: sempre adiando e confiando na razão cega e limitada.
Pobre de nos! Temos os olhos de vidro, sempre embaçados com o calor dos afetos.

18 de jun. de 2010

O Ultimo Epitáfio.


"Deus é o silêncio do universo e o homem o grito que dá sentido a esse silêncio"
José Saramago (1922-2010)


6 de jun. de 2010

Narciso Ébrio e Apaixonado

Cena do filme Nome Próprio de Murilo Sales

Jogado no canto daquele apartamento vazio

Estava o corpo ainda vivo


Talvez apenas suspiros

Aprisionados naquele pulmão cancerígeno

(A evaporar em fumaças de cigarro, podre e roxo)


Sussurrava gemidos


Talvez vomitasse delírios

(esôfago seco e rígido a rachar em acidez):


“Mar


Rio


Ferido


Mais que isso

Sempre mais que tudo


Cindido


Distúrbio noturno


Tranqüilo?


Não ainda

Sempre mais ainda


Metafísico

Físico só


NARCISO!”


Em sua pele

Apenas calor era

Os raios que rompiam a janela


O sol ainda insistia em nascer lá fora.

Poeminha a Amada Temerosa (ou Dos Amores Primaveris)

A12narciso1

Narciso (Narcissus), planta que floresece normalmente no período do inverno e da primavera.

Eu te amo


Porque vida é Planta

Que cresce em busca de luz


Quando partires, sofrerei

Tu sofreras


Porque viver é rosa


E da rosa eu quero tudo!

Até os espinhos.

26 de mai. de 2010

Pequeno bilhete ao marinheiro

Amar tudo
E odiar tudo

Tudo desejar
E sempre nada ter:

Eis a sina de quem nasceu pra ser

MAR

23 de mai. de 2010

Um Parêntese ao Poeta


Gran finale
Damário da Cruz

Avise aos amigos
que preparo o último verso.
A vida
dura menos que um poema
e no alvorecer mais próximo saio de cena.


Damário da Cruz: morreu em 21 de maio de 2010, não o conheci, mais se foi o seu ultimo desejo distribuir estes versos, eis ai.


“A possibilidade de arriscar é que nos faz homens”


Tomara que a mim também seja dada essa ultima graça de poder escrever antes da morte, com ela a bater na porta.

Pesquisando por ai algo mais dele, achei tal belo poema:

Caixa - preta


Sou um homem.
Portanto,
mais que palavra.


Não pronuncio
o sentimento
apenas como palavra.


O que foi dito
ao entardecer
não se confirma
na madrugada.
O que foi visto
no sonho
não se confronta
com a realidade.


Sou um homem.
Portanto,
uma surpresa.

A Nau Solipsista


"No primeiro momento, Descartes é uma Ilha.
Depois, é um Deserto."

Leidevam Rodrigues


Maíra...
Será a vida
Uma ilha?

Maíra...
Mais ela é só Mar
E ira

Maíra
Mais que um barco
Uma paixão aflita.



A frase, eu ouvi ontem de um amigo em meio a goladas de álcool.
O poema, eu fiz em 18 de abril deste ano, por volta das 2:30 da manhã, também em meio a uma bebedeira e poemas de
Manuel de Barros, para uma pessoa linda que eu havia acabado de conhecer naquela madrugada.

15 de mai. de 2010

Com a pele fria e sem sentir.

É que narciso
Tem os olhos de vidro
E só enxerga
Por imagem e representação

E ele sempre morre petrificado
Na inércia da reflexão
Sobre o rio
E a imensidão solitária de si mesmo.

A Sinfonia de Meus Moinhos

Salvador Dali
No silencio desta ventania
Que invade as portas
Da casa vazia
Ouço, lá longe,
Um moinho a ranger
É só o que eu ouço

Move o vento
O moinho
Range ele bem baixinho
O moinho a me moer.

Eu mesmo talhei
No ultimo inverno de solidão
Esse pequeno e áspero moinho
Só pra não viver sozinho
No silencio e imensidão
Desta casa vazia.

E agora eu sei
E também doe saber
Que sou eu
Que o faço moer

Moe o vento
O moinho
Geme ele bem baixinho
O moinho a me mover

* pequeno rabisco de uma idéia maior, áspera que é... do mesmo caderno das dores de amor de Narciso.

2 de mai. de 2010

Nota de Roda Pé.

Resposta a um certo comentário, de um amigo vampiro, no post anterior:

"É. Ultimamente não tenho feito outra coisa que não seja lutar contra estes moinhos de vento... talvez estejam eles dentro de mim a moer a ventania de minha própria alma."
Depois de um dia de ressaca de vinho da noite anterior, dormirei à pensar nestes moinhos... [nesta noite solitária de relâmpagos e tempestades]

10 de abr. de 2010

Momento Narcisista II.

                                                                     Francis Bacon, série de auto-retratos (1971-72)

Eu sou puro Grito
Mudo
De significado e definição

As minhas Intensidades
São todas dogmáticas

E as minhas paixões
São como suicidas kamikazes
Que se lançam
Nesta eterna guerra
De impulsos e amores egoístas

Sou um individuo
De pouquíssimas convicções

As poucas que tenho
Sempre falecem
Como as flores que suicidam-se
Lançando-se dos galhos, murchas e secas,
Antes do por-do-sol,
Sempre antes do por-do-sol.

24 de mar. de 2010

Subjetividade

Minha interioridade
É só intensidade e silêncio

Por isso não se assustem
Com meus gritos surdos
Sussurrados no escuro.
.........................................

14 de mar. de 2010

Por que o silencio...

Preciso ouvir o que a vida tem a dizer antes das palavras. Na verdade, me dói esse grito mudo das dores que não cabem nas palavras. O poeta quer, agora, se matar com tudo o que ele fez; pintar um quadro com o sangue do próprio pulso(sem cortar as veias, só fazer sangrar. Por que é na dor que a gente sente mais e é no vermelho do sangue que se reflete a verdadeira face de um ato desesperado): tenho um texto no meio de meus rascunhos e uma idéia de desenho na minha cabeça sobre essas duas imagens. Mas sinto que minha arte, a arte que vejo agora em mim, minha verdadeira arte, ainda esta por nascer. E só ouvindo este silêncio que agora risca a minha pele é que eu vou conseguir parir esse filho sem pai nem mãe, que não vai se lembrar de sofrer uma só partícula de lágrima por sua orfandade... É que O QUE EU QUERO É PARIR A MIM MESMO!

6 de mar. de 2010

Os ecos de um silêncio.

Ele não quer mais
Tentar gritar
Os sussurros
Do amor que feri

Ele não quer mais
Ter que dizer
Baixinho
Os uivos de dor da existência

Ele não quer mais
Ter que susssurar
Os gritos
Do amor que feri*

Ele não quer mais
Tentar gritar
Os sussurros
De dor da existência.

Fragmento para o poema anterior que, por ter sido feito depois da postagem, achei que seria melhor que fosse postado assim.

*como a rosa que abraçada com tanto furor e desespero não deixa de rasgar a pele, o véu fino que sustenta [o elefante, mesmo sem distinguir as próprias patas, se matem em pé] a nossa interioridade. 

3 de mar. de 2010

Do desespero e outros silêncios.


Angelo Bronzino, Triunfo de Vênus, 1450-5(fragmento)

E o poeta se joga
Do alto do fim
Do primeiro verso

Despenca todo poema
E cai em cima do ultimo
Ponto final

Ele não quer mais
Respirar locuções
Não quer mais se alimentar
De rimas

Ele quer se enforcar
Em cada palavra

Morrer sufocado
Por silêncio.


Escrevi isto hoje de manha, mas na verdade trago este nó por dentro desde ontem (e você sabe porque!). Sinto vontade de acabar com TUDO, mas, por covardia, vou acabando com isto aqui: de que me vale tanto dizer, se o mais importante é sempre silêncio?

26 de fev. de 2010

Do silêncio exterior.


- Façam silêncio!

  A mãe segura-o pelo braço, angustiada, tentando esconde-lo dos que passam pela calçada, dos que esperam o sinal fechar.

- Façam silencio!
- Quieto garoto, pra que tanto barulho?!

   O sol queima forte e se neste momento todos se calassem (os vendedores de embalagens vazias de utilidade; os carros que correm surdos e sem destino...) seria possível ouvir o estralar do asfalto escaldante.

- O que ele esta sentindo? Eu posso ajudá-la? ... Ele tem asma? Tente ouvir o peito dele!
- Talvez seja o coração. Ele tem tido esses ataques ultimamente. Eu tenho impedido-o de assistir desenhos animados em outros idiomas. Ele insiste em dizer que mesmo assim entende, mais eu desconfio que ele destorça tudo.

  Um pássaro observa imóvel do alto de um prédio que aponta para um céu de nuvens poucas.

- Ele deve ser dos que ainda acreditam nas expressões físicas; que a estética dos movimentos afetivos fala o que sempre se cala. Pobrezinho, há tanto para se ouvir.
- Oh! Tens razão! As tuas palavras me lembraram um livro que li recentemente. Gosto dos livros, eles carregam consigo histórias e vozes que, olhando, não se ouvem.

   Ele se cala e, olhando para a mãe, se da conta de como nós também somos livros, sempre fechados, sempre em silêncio. Agora mudo, ele olha a todos e pensa no grito do silencio que há entre eles.


A força do silêncio que há em mim me obrigou a publica-lo antes de encontrar uma imagem a altura. Se alguem tiver uma sugestão... Halamo?

16 de fev. de 2010

Momento Narcisista.



Yes! I Love My Chaos!

3 de fev. de 2010

Das noites em que o céu cai.

- Eu esqueci! Nem ao menos me lembro da origem, da etimologia, da teogonia (da cosmologia!) da pergunta quando.

- Meus olhos, perfurados por Sangue, após rompido o seu véu multiformizante, não mais enxergam uma só partícula Fóton de pensamento.

- O meu peito bate frio e seco. Pois até o sangue que por ele corria se desfez em partículas quânticas de indecisão: sem saber o Pulso porque pulsava... sem saber o Amor por quem aquecia.

- As minhas mãos, estáticas a tremer, pintoras surrealistas em potencial, erram na inércia do Não... do porque?

- Minha consciência, liquefeita, cai do teto escorrendo pelas paredes, como sangue de chacina, em busca de algo que se esqueceu pelos cantos,... pelos fins.


2 de fev. de 2010

O doce sacarina das palavras.

Nem mesmo as notas,
Que agora surdas, mudas aos meus ouvidos cegos,
São mais ingênuas.

Não notas-te?
Teu peito impuro
Se contamina de teu próprio ego.

Tuas mãos frias
Rasgam o véu do não dito
Por palavras sem sentido.

Não escreves sobre o impuro
Pois foges, pintando gostos
De aromatizantes artificiais

Pois o simples foge
Da mão que deseja pintar o sincero.
E o irreal sempre chega
Quando tentamos dizer a realidade.


   Teu corpo é tão multiplamente voluptuoso que chega a ser impossível te sentir em um único abraço... em um único coito.

27 de jan. de 2010

A beleza e o corvo


                                                                                                          Salvador Dali, Angustia.
O que tu sonhas?                                                              
Onde será que repousa
A tua beleza e a tua chaga?

Por quem tu sonhas?
Onde tu espera
O teu sonho e o teu medo?

Quem beijará
O teu pescoço e o teu espelho?

: carne viva (pele e osso) a se matar.

...E eu que vivo a sonhar?

Eu que vivo a sangrar...

Do silêncio.

                   

    E não importa o tão quanto alto eu grite, o grito interior é sempre mais ensurdecedor.


O grito, pintura de Edvard Munchu(1983)

19 de jan. de 2010

O canto dos impávidos.

Me elevo com tal glória e tanto,
Que a coluna que edifico para o meu ego
Se desfaz
Em lagrimas
De
Açúcar.

Pois se é doce o gosto da vitoria,
É também frágil
A primeira
Chuva.

E que tantas outras chuvas venham.
Porque é dos cacos
De tantos céus que vi cair,
Que faço um caminho de diamantes
Para caminhar.

E eu poderia sair agora pelo mundo;
Correr pelas ruas descalço
E sentir os cacos perfurarem meus pés.

Amar e beber
Todo esse sangue
Que banha o meu corpo
E me torna cada vez mais vivo e sedento
Por caminhos nus
E terras virgens.

O fim do poema.

Mas em que momento,
Às cegas, às escuras,
Eu fui te amar
Eu fui te ver?

Como rimas invisíveis
Uma sutileza implícita
Paranóia amiga
(Calada cega e sem nome).

Mas a realidade
É muito mais do que Beijos Sonhados.
Muito mais do que
Abraços Imaginados,
Na ausência, na espera.

Em que momento
A gente se perdeu,
Fingiu sumir,
Fingir, fugir do caminho?

Em que momento
As rimas sumirão?
A sutileza das métricas,
A volúpia dos gostos?

Em que momento
A insipiedade das palavras?


... E aqui te encontro, no fim do poema. Na linha tênua que separa a minha ilusão do teu rosto frio a me ignorar.


(escrito originalmente em 12 de dezembro de 2009)