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31 de out. de 2010

Do silêncio II.

Sinto que neste momento poderia escrever sobre tudo...

Mas sei, do que as cicatrizes podem dizer, antes,
Que sou frágil demais pra aguentar o peso das palavras...

...

Então deixo os gritos voarem e se perderem...
Sempre a se perderem

...


22 de out. de 2010

Revoada silenciosa.



Desde já devo dizer que fiquei muito feliz e encantado com seu texto. Mas ainda fico atordoado diante de belezas simples e singulares (meu vasto e confuso coração se torna um grão de areia no meio da ventania): demorei pra assentar meu espírito em algumas palavras e tentar expressar o que me fizestes sentir ao ler-te, algumas outras tantas vezes já demorei tanto que o sentimento me escapou e se perdeu no meio dos compromissos diários (quantas crianças órfãs esquecidas pelo caminho!)- espero conseguir terminar este texto.
Sobre a economia das palavras, gosto de pensar nos pequenos poemas de Quintana: em pequenos versos - há nele poemas que chegam a ter apenas uma linha- resumi-se todo um universo, como se o poema fosse um acontecimento e todo o resto se calasse, ou, e assim gosto de pensar, como se houvesse uma espécie de teimosia em cada poema que ignora todo o resto do mundo e suas palavras e questões mudas, porque naquele breve instante, tudo se emudece e só aquele curto verso importa como se fosse ele a revelação de tudo o que antes estava velado.
Parece que há no silencio uma importância que só se revela quando este é insinuado- na precisão de um olhar, na segurança das mãos que aquecem... (pena, para mim, que Narciso ainda não esgotou o som das palavras: continua a ouvir os gritos que, apesar de serem de fora, ouve como se fossem seus- precisa ele ensurdecer-se pois ainda não desacreditou da verdade do sangue.)
Há mim parece que, se há felicidade no cair do céu, é porque há uma certeza muda de que todo fim é condição da possibilidade de um novo começo - e o sofrimento é o ocultar-se da felicidade como condição da possibilidade dela mesma.
Quanto à citada serenidade, percebo que algumas coisas que escrevo antes de serem expressões do que sinto e, por isso, conselhos a um outrem, são como que reivindicações das minhas angustias mais ocultas a mim mesmo: esta serenidade ainda me falta, minha mente parece mais uma gaiola cheia de pássaros em revoada e desespero de voar- diria Kant que falta em mim uma estrutura transcendental e seus juízos sintéticos para ensiná-los a voar.
Mas escrever assim, ”Conversa aberta, desfilosófica”, sabendo ser isto uma possibilidade de continuar a ler-te, é o que mais vale a pena neste momento: eu sempre tive uma teoria que, ao contrário do que talvez quisessem os cartesianos, os pássaros nunca voam apenas por puro pragmatismo de auto conservação da espécie, parece haver uma necessidade tácita de bailar no risco aéreo dos ventos- em nosso casso, brincar com a imprecisão de cada signo da humana epistemologia de papel.

Escrever assim é sempre um remexer em coisas ocultas. Eu não consigo ignorar as palavras, muito menos o silêncio delas: fica muito a dizer, sempre muito, de mim e, aqui, do seu escrito.


Obs: não entendi o que você quis dizer com “a de limão”.
[segundo a própria Ângela: "(...) é essa que não se vê, mas caso se aproxime o fogo do papel - ah que ela está lá! - assim me parece significar a "revoada silenciosa".]

11 de out. de 2010

Momento Narcisista IV.


Tenho a cabeça cheia de gritos.
Alguns são idéias
Outros se limitam a profundos delírios.


Porquanto, não distinguindo quais são o que, mantenho o blog sem novos post's.

No Jardim das Flores Suicidas II.

O pequeno e determinado universo
Se expande e se desfaz ao nosso redor
À medida que se multiplicam as possibilidades

O sol em nossas mentes
Parece querer nós queimar

Às vezes,
A imensidão do céu parece querer nós engolir

Beba, beba meu amor!

Beba do vinho e coma da carne
Antes que o Devir transforme tudo
Em lembranças insípidas

Tente sentir o calor de minhas mãos
Antes que o desejo se desfaça
Na incerteza dos motivos,
Na confusão das palavras
(Frigidas freiras atordoadas)

Pois a verdade é uma hóstia
A se desfazer no semi-árido do tempo


Escrito originalmente em uma aula de língua grega, no dia 10 de setembro de 2010.