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27 de jan. de 2010

A beleza e o corvo


                                                                                                          Salvador Dali, Angustia.
O que tu sonhas?                                                              
Onde será que repousa
A tua beleza e a tua chaga?

Por quem tu sonhas?
Onde tu espera
O teu sonho e o teu medo?

Quem beijará
O teu pescoço e o teu espelho?

: carne viva (pele e osso) a se matar.

...E eu que vivo a sonhar?

Eu que vivo a sangrar...

Do silêncio.

                   

    E não importa o tão quanto alto eu grite, o grito interior é sempre mais ensurdecedor.


O grito, pintura de Edvard Munchu(1983)

19 de jan. de 2010

O canto dos impávidos.

Me elevo com tal glória e tanto,
Que a coluna que edifico para o meu ego
Se desfaz
Em lagrimas
De
Açúcar.

Pois se é doce o gosto da vitoria,
É também frágil
A primeira
Chuva.

E que tantas outras chuvas venham.
Porque é dos cacos
De tantos céus que vi cair,
Que faço um caminho de diamantes
Para caminhar.

E eu poderia sair agora pelo mundo;
Correr pelas ruas descalço
E sentir os cacos perfurarem meus pés.

Amar e beber
Todo esse sangue
Que banha o meu corpo
E me torna cada vez mais vivo e sedento
Por caminhos nus
E terras virgens.

O fim do poema.

Mas em que momento,
Às cegas, às escuras,
Eu fui te amar
Eu fui te ver?

Como rimas invisíveis
Uma sutileza implícita
Paranóia amiga
(Calada cega e sem nome).

Mas a realidade
É muito mais do que Beijos Sonhados.
Muito mais do que
Abraços Imaginados,
Na ausência, na espera.

Em que momento
A gente se perdeu,
Fingiu sumir,
Fingir, fugir do caminho?

Em que momento
As rimas sumirão?
A sutileza das métricas,
A volúpia dos gostos?

Em que momento
A insipiedade das palavras?


... E aqui te encontro, no fim do poema. Na linha tênua que separa a minha ilusão do teu rosto frio a me ignorar.


(escrito originalmente em 12 de dezembro de 2009)